terça-feira, 8 de junho de 2010

A Formação da Personalidade em Jung

O inconsciente é a mãe criadora do consciente. A partir do inconsciente é que se desenvolve a consciência. Há dois caminhos pelos quais surge a consciência. O primeiro é o momento de uma forte tensão emocional, e o segundo caminho é um estado contemplativo no qual as representações se movimentam como as imagens oníricas.

A maioria das impressões surgidas nos primeiros anos de vida se torna rapidamente inconsciente e forma a camada infantil do inconsciente pessoal. O inconsciente pessoal encerra tudo o que foi esquecido ou reprimido ou de qualquer forma se tornou subliminar. Mas no inconsciente podem ser encontrados outros conteúdos, inteiramente estranhos à pessoa, e muitas vezes não apresentam o menor vestígio de uma qualidade pessoal. Material deste tipo é freqüentemente encontrado em doentes mentais contribuindo em muito para sua perturbação. Esses materiais estranhos podem aparecer também em nossos sonhos. A esta camada impessoal da alma denominou-se inconsciente coletivo.

Nossa consciência pessoal é como que um edifício erguido sobre o inconsciente coletivo, de cuja existência sequer suspeitamos. Em geral nos sonhos e também em certos tipos de psicoses encontram-se muitas vezes material arquetípico que consiste de imagens e conexos correspondentes aos que existem nos mitos. (ex. sonho, p. 123 vol. XVII).

Como se dá o desenvolvimento da personalidade e o que é a personalidade é uma questão que requer toda nossa atenção. Falamos comumente de "ser uma personalidade" e de "ter uma personalidade"; em geral o que se quer dizer é que "Pelë" é uma personalidade, o que não quer dizer que "ele" tenha personalidade. São distorções da linguagem que nos confundem. Para que possamos ter personalidade precisamos ser educados e formados para tal. Isto requer que, primeiramente, nossos formadores tenham personalidade. Ninguém pode educar para a personalidade se não tiver, ele mesmo, personalidade.

De modo geral como adultos recebemos uma educação defeituosa, o que também aconteceu com nossos formadores e educadores. Da média dos professores não se pode esperar mais que da média dos pais, ou seja, precisamos nos satisfazer com que ofereçam o melhor que podem e isto é o "que podem". Não é possível exigir das crianças que tenham personalidade, pois isto é um ideal da vida adulta.

O empreendimento de desenvolver a personalidade, é, na opinião dos que estão de fora, um risco nada popular e nada simpático, pois implica, de certa forma, viver ao modo do eremita, à margem de. Implica também na coragem de ir se libertando das convenções e de afastar-se dos caminhos largos, seguindo a via estreita, enquanto a massa apega-se a temores, convicções, leis e métodos pré-estabelecidos.

Que impulso é este então, que impulsiona o homem a seguir um caminho para além do comum? Jung denominou-o designação. Esta designação age como se fosse uma lei de Deus, da qual não é possível esquivar-se, é um fator irracional, traçado pelo destino, que impele o homem a emancipar-se da massa gregária e de seus caminhos desgastados pelo uso. Quem tem designação, escuta a voz do seu íntimo, está designado. A designação não constitui um privilégio das grandes personalidades, estas, foram as que ouviram o apelo e lançaram-se no grande desconhecido.

Todos os indivíduos têm designação, apenas que, em alguns, quanto menos desenvolvida estiver a personalidade, tanto mais imprecisa e inconsciente a voz, até confundir-se com a sociedade. A voz interior é substituída pela voz do grupo social e de suas convenções. A voz induz o indivíduo a deparar-se com questões e problemas dos quais os outros nada sabem. Aos olhos da coletividade este fator, designação, pode aparecer como sintoma ou doença, "loucura". A voz do coletivo diz: "somos todos iguais" e a voz interior diz: somos únicos, cada um é um. A voz do coletivo diz: "isto é só psicológico", não tem importância, esta a acusação mais popular hoje em dia, expressada pelos menos avisados e, provém da grande subestima que se têm pelas forças motoras da vida e da alma. Nega-se o que é incomodo, sublima-se o que é indesejável, afasta-se com explicações o que é angustiante, corrige-se o que se julga um erro; e tem-se por fim, a impressão de ter colocado tudo no lugar.

A única coisa que distingue este homem de todos os outros é a designação. Esta designação implica na coragem de seguir o seu próprio caminho e de colocá-lo acima de todos os outros, enquanto as convenções nada mais podem nos dar que as rotinas da vida, leis que vêm de fora para dentro, absolutamente necessárias em determinadas épocas da vida. Porém, o perigo das convenções, é que mantêm o homem inconsciente, e não implicam em maiores decisões. Toda vez que esta realidade, da designação, quer manifestar-se, precisa individualizar-se, pois normalmente não existe outra escolha possível a não ser a de expressar-se por meio de um indivíduo singular. Somente pode tornar-se personalidade, aquele que é capaz de dizer um sim consciente, ao poder da destinação interior que se lhe apresenta. O que cada personalidade tem de grande, é ela, por livre decisão, sacrificar-se à sua designação.

Autor Desconhecido – Texto baseado no livro O Desenvolvimento da Personalidade, de Carl Jung

Um comentário:

Marcelo Luna disse...

Só agora pude ler com calma e apreciar tudo que Jung nos deixou.
Expetacular.